sábado, 22 de maio de 2010

Olhos Abertos

Ele descia a rua,
Tentava evitar um desastre anunciado, tinha um pensamento que o perseguia durante as 24 horas do dia.
Levou a mão no bolso, viu que horas eram,
Não sabia como sair daquela situação, e estava ficando sem tempo, não podia mais errar.
Avistou um velho lugar que sempre lhe trouxe alento,
Pensou durante alguns instantes em deixar pra lá, não ligar mais.
O velho lugar já não era tão acolhedor, aquele lugar não era mais o mesmo, ele não era mais o mesmo,
Não conseguiu "deixar pra lá", mesmo que quisesse não poderia, aquilo o corruía pelas entranhas, era a primeira coisa que ele pensava ao acordar e a última coisa que lembrava antes de dormir.
Diminuiu o passo, pressa pra que? Pra chegar aonde?
As luzes o lembravam de momentos que jamais existiram, mais que apareciam como flashes de um passado esquecido, algo que se perdeu na sua memória, algo que lhe foi tirado pelos anos.
Parou. Refletiu durantes alguns segundos. De repente se deu por conta que nunca conseguiria esquecer aqueles dias, dias em que mal parecia estar vivo, instantes de pesar extremo, arrependimento.
Dobrou a esquina, aquelas ruas antes tão acolhedoras, agora pareciam uma via-crussis, tortuosa, dolorosa.
Sorriu irônicamente, lembrou como terminou a via-crussis mais conhecida de todas.
O certo é que nem ele conseguia explicar o que sentia, clamava por uma virada repentina, como nos filmes que costumava assistir nas madrugadas de insônia, um final feliz, era tudo o que ele queria.
Parou na sinaleira, viu um carro ao longe, podia atravessar sem problemas, mas não o fez. Suas pernas não sairam do lugar, sentia que carregava o peso do mundo sobre as costas, respirava fundo, procurando fôlego para continuar o trajeto. O sinal fechou, arrastou-se até o outro lado da rua.
Lembrou-se de quando era pequeno e sabia exatamente o que fazer e dizer (bom, quase sempre...), desejou o fim, desistiu, olhou no relógio, o tempo era um inimigo que lhe escapava e passava rápido demais quando ele precisava de um momento para pensar a respeito de tudo.
Chegou na sua rua, podia ouvir o som da TV nas casas vizinhas, chegou em frente a sua porta, entrou.
Mais uma vez procurou por respostas e não as encontrou. Preocupou-se ainda mais com os dias que viriam pela frente, com as decisões que tomaria à seguir. Como vai se livrar daqueles pressagios ruins? Daquela sensação de tragédia anunciada?
Pela primeira vez tudo ficou claro, aquilo parecia tão óbvio que o deixava constrangido, era simples.
Uma voz na sua cabeça dizia:
-Abra seus olhos...

Um comentário:

  1. A vida não é fácil de ser vivida ainda mais para quem enxerga. Então fica a dica cuidado ao abrir os olhos!

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