segunda-feira, 7 de março de 2011

10 Segundos e Uma Parede

Eu entro fecho a porta, fecho a grade e caminho pelo corredor do prédio
raspando a chave na parede.
Faço isso desde que tinha uns 12 anos, é uma mania, um mantra, sei lá.
Até os 10 anos parava e olhava o céu à noite, mas isso já não pode ser feito,
foi tirado de mim... uma longa história que não vem ao caso.
A parede é de lajotas como no seu banheiro, então a chave faz barulho, quando encontra as divisões
entre uma e outra lajota.
Passo a chave pela parede, e nesse breve instante que deve durar no máximo 10 segundos,
eu penso, penso em tudo e em todos, passam pela minha cabeça coisas que há muito eu jurava esquecidas,
coisas que vez ou outra voltam para dizer "olá", e depois voltam para o limbo de lembranças.
10 segundos, não dá pra fazer muita coisa nesse pequeno intervalo de tempo, quanto mais pensar em muita coisa, eu sei. Mas pra mim é tempo suficiente para certos assuntos mal resolvidos. Se tais assuntos insistissem em ficar comigo por mais de 10 segundos, talvez minha sanidade estivesse em pior estado.
Talvez.
O que seria da minha vida sem aquela parede, sem aqueles 10 segundos...
Acho que todo mundo deve ter sua própria parede de lajotas, um lugar onde se para e reflete sobre uma série de coisas que se foram ou acabaram a muito tempo, um lugar para reviver e enterrar fatos perdidos na correria do dia-à-dia.
Quantas pessoas já perderam a cabeça só por não terem essa parede, ou por tal lugar ter sido roubado delas, sei lá, vai ver é assim mesmo. Vai ver o erro fatal é achar que determinado assunto já foi superado e de repente se ver frente à frente com ele de novo. É preciso estar preparado, é preciso ter sua própria parede de lajotas, que funcione como um "muro das lamentações pessoal", que compartilhe com você alguns fardos que a vida te obrigou a carregar sem aviso prévio.
10 segundos, meu amigo, pode ser a diferença entre sua mente sã e o hospício.

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