terça-feira, 24 de agosto de 2010

Monstro Sem Cabeça (por David Coimbra)

Cometeu alguns erros, a atual direção do Grêmio. Nenhum deles por má índole ou má intenção. Erros de quem queria sinceramente acertar. Mas ainda assim erros.
Um deles foi a já citada histórica arrogância de não olhar para o Inter.
O maior de todos, o de afastar-se da torcida da Geral.
Meu amigão Potter, insuspeito colorado, faz um diagnóstico interessante sobre o fenômeno do aumento da torcida do Grêmio nos últimos anos, a despeito das fases ruins do time. Segundo ele, é porque a Geral do Grêmio virou moda. A gurizada anseia por toda aquela movimentação, a avalanche, os cânticos, talicoisa.
A Geral mudou o jeito de torcer no Brasil. E tornou o Grêmio invencível no Olímpico durante duas temporadas.
Com a Geral a empurrá-lo de cinco anos para cá, o Grêmio ganhou três regionais, foi terceiro lugar no Brasileiro em um ano e segundo em outro, além de vice-campeão da Libertadores. É pouco?
Sim, em comparação com o quinquênio do Inter. Compare com os outros clubes brasileiros.
O que o Grêmio ainda tem deve à sua torcida. Alguns integrantes da Geral cometeram deslizes, verdade. Teriam de ser corrigidos. Mas sem emascular a torcida, que foi o que fez a direção. A reação devia ter sido oposta. A direção devia ter fortalecido a torcida, devia ter se aproximado dela para eliminar-lhe os defeitos e reprimir os maus integrantes.
Bem dizia Marx: a turba é um monstro sem cabeça. Manipulá-la é fácil. Orientá-la, nem tanto. A direção do Grêmio havia de ter orientado a sua torcida, nunca se apartado dela.





P.S:Eis uma diferença entre Grêmio e Inter.

O Inter se mira no Grêmio. Quer, em primeiro lugar, bater o Grêmio. Isso, ao contrário do que se possa pensar, é uma grandeza, não uma diminuição. O contrário, sim, é pouco inteligente.
Pois o Grêmio faz o contrário. O Grêmio teima em desconhecer o Inter. É uma arrogância sem apoio na realidade, como quase sempre são as arrogâncias. Mais até: é uma tolice.
O Inter, quando olha para o Grêmio, torna-se maior. Quando não olhou, se perdeu. Durante 25 anos, o Inter buscou conquistas nacionais e internacionais. Em vão. Até que Fernando Carvalho assumiu e pregou:
– Primeiro, temos que derrotar o Grêmio.
Foi assim que o Inter se fortaleceu e cresceu, e agora se igualou em títulos ao Grêmio, e agora é o maior do Brasil. Como Jorge Amado, o Inter, ao cultivar a sua realidade regional, conquistou o mundo.

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