terça-feira, 26 de outubro de 2010

Afasia

Eu quero estar assim, à um passo da serenidade,
quero um fim de tarde na certeza de um amanhã feliz.
Pretendo, ainda nessa vida, entender tudo e todos,
fazendo de mim a pessoa mais confiante e compreensível do mundo,
pretendo saber o que dizer e como agir
quando você me olhar esperando por aquela frase
de felicidade incomum e de resolução irreal.
Vou ir todos os dias até os lugares onde eu me sinto bem,
porque eles já não são tantos assim. Vou conviver, apenas,
com as pessoas que me fazem bem, pois já desperdicei tempo demais
tentando convencer as outra pessoas de que vale à pena
me dar uma chance pra provar que não sou tão ruim
quanto aparento.
Ainda nessa década vou conseguir fechar uma semana
sem me questionar sobre o futuro da raça humana,
ou o futuro dos relacionamentos afetivos, ou mais importante ainda:
o futuro do meu time.
Coisas simples. É disso que eu preciso. Um pouco de poluição,
um sorriso mentiroso, algumas palavras despretenciosas que me ajudem
a atravessar o dia-à-dia com segurança. Que me ajudem a salvar o mundo
todos os dias.
Quero a riqueza de espírito, e é claro, a monetária também,
afinal não a felicidade sem bens materiais. Porque se houvesse, aqueles monges budistas
que abdicam de tudo para viver num mosteiro sorririam mais.
Pense bem, o Maluf vive sorrindo, porque será?
Vou começar a escutar mais e falar menos, vou fingir menos
e parecer mais, vou tentar ser franco mesmo quando não puder
faze-lo de verdade.
Ainda irei sair de uma sala com a certeza de que fiz o máximo
que poderia, que não deixei nada sem um ponto final.
E desejo também uma casa onde eu consiga aproveitar
o silêncio sem ser interrompido pela brutalidade das vozes vãs.
Eu quero ver e não te esquecer. Quero ser e não responder por que.
Quero crescer sem perder lembranças. Eu quero ter para saber o valor real.
Retroceder, te perceber e se a colônia quiser assim,
vou correr, vou chorar, vou saber, entender.
Afasia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário