quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Lance de Escadas

Entrei pelo portão, abri a grade, subi as escadas, bati a porta.
Encontrei-me com um vazio físico e moral,
algumas de minhas mais fixas idéias, como por mágica,
tornaram-se realidade.
Por um momento me deparei com um dilema moral muito forte,
afinal culpa sempre foi meu cartão de visitas,
mas não! Não dessa vez, a culpa não é minha,
eu não vou conviver com essa responsabilidade.
Não me orgulho dos pensamentos que tenho sobre a tua pessoa,
mas nunca desejei, nem ao menos por um instante,
ter esse tipo de ralação com você.
Fui forçado pela sua estranha mania de tentar me arruinar,
de me tratar como fantoche das suas vontades.
Você errou, levou nossa convivência ao grau mais extremo
de irritação, sem palavras, sem motivos que nos dessem esperança
de um futuro acerto.
Caminho pelos cômodos da casa e percebo que fracassamos
desde o começo, não soubemos ouvir, não soubemos respeitar.
Gostaria de atribuir essa derrota somente à você, seria mais fácil assim,
mas não posso fechar os olhos para não ver o óbvio.
Agora quilômetros nos separam e a agonia aos poucos se vai,
o conforto do esquecimento chega como um velho amigo.
Vamos, então, fingir. Vamos exercer a liberdade de mentir
para agradar, somos excelentes nisso, você lembra?
Temos pouco tempo agora, e não precisamos mais nos desgastar
com a convivência forçada, o drama utópico, a imensidão de verbos
no infinito de sentimentos.
Somos isso mesmo, nunca fingimos aturar o contrário de nossas vontades,
talvez aí more o descontentamento e todo o descaso que dedicamos
um ao outro. Foi-se, finalmente, a raiva que estava atrelada a nós dois,
desperdiçamos tantos momentos, até que pudemos perceber que somos
diferentes demais para arriscar estar tão perto.
O fim nunca parece bom ou correto, mas é no remédio mais amargo
que esta a veradeira cura. Erramos o alvo e agora estamos sem munição
para tentar lutar pelos sentimentos que tantos valorizavamos.
Entendemos, enfim, que tudo que um dia pareceu indispensável,
agora já é carta fora do baralho, assim mesmo, descartavel.
Mentimos, brigamos, xingamos, lutamos contra nossas próprias crenças,
e pra quê? Tanto esforço dedicado a uma futura decepção.
É, eu sei, é sempre desse jeito pra mim,
mas nunca escondi isso de ninguém,
há tempos abandonei o escudo e a espada,
não tenho mais pelo que lutar, o que defender.
E isso não me incomoda nem um pouco.
Nada de clichês como "Um livro aberto",
nada disso. Ainda tenho muita coisa à esconder,
só que agora a estante já esta mais vazia.
Os trófeus e orgulhos, as medalhas e conquitas,
há muito já estão esquecidas e deletadas.
Vivo agora, para o momento, para aquele determinado dia,
e não me permito a vaga lembrança do que me incomoda,
bendita a anestesia geral para todas as dores,
bendita cura que alivia a alma do que não presta.
Fecho a porta e desso as escadas, é lá fora que esta a resposta,
escondida em alguma viela, em alguma longa e iluminada avenida.
Tudo bem, não tenho pressa, tenho tempo para procurar,
entre um gole e outro. Entre o céu e o inferno diário.
Caminhando lentamente, ao som dos carros,
por entre desconhecidos e farsantes.
Estamos prontos, não estamos?

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